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6.6.10

Passado x Presente x Futuro


Amparados pelas tecnologias que superam umas as outras a cada dia, encurtamos distâncias, suprimos nossa necessidade de socialização por algo que nos proporcione prazer, teoricamente, na mesma medida (quantos solitários mundo afora driblam a solidão com a companhia de um bichinho de estimação, ou ainda escondem-se atrás de uma tela de computador para poderem escancarar sua verdadeira personalidade, incompatível com a realidade a qual estão sujeitos?). Entretanto, apesar de rodeados por todo esse aparato tecnológico, continuamos insatisfeitos por ainda não terem inventado uma maquinaria que deixasse o passado e o futuro ao alcance das nossas mãos, assim como nos é, unicamente, o presente.

O passado. Aposto que todos, em algum momento da sua existência, quiseram ter acesso a esse baú de recordações, um tanto empoeirado, mas nem por isso menos valioso. Descontentes com o presente, agarramo-nos às nossas lembranças mais encantadoras. Geralmente recorremos à infância, onde tudo parecia tão puro e incorrompível. Os dias eram despretensiosos, por vezes curtos diante de tantas brincadeiras e disposição, encerrados com uma xícara de Nescau quente em frente à televisão. Perdoem-me os metropolitanos, oriundos de capitais, mas eu não troco a minha criação interiorana por um apartamento que limita possibilidades (e potencializa os desastres e puxões de orelha) e um playground no fundo do prédio, rodeado por cercas que remetem à prisão. Nada como um pé encardido de tanto correr descalço pelo pátio!

O futuro. Quantas vezes já convertemos um possível fracasso atual em sucesso futuro? Não que isso seja de todo mal, já que muitas vezes temos de apelar a projeções para aceitarmos o presente. O que eu questiono aqui (e me questiono com uma freqüência maior do que deveria) é o desejo de transpor etapas, de avançar alguns bons anos na linha do tempo, para um ponto em que se espera ter uma maior realização, tornando a felicidade uma promessa, nunca uma realidade. Seja qual for o motivo do nosso descontentamento presente, não é omitindo-o de nós mesmos que iremos transformá-lo em um futuro mais agradável. Somente questionando a nossa posição atual é que poderemos caminhar em direção a uma diferente.

O presente. Único meio de desenharmos um passado memorável e um futuro brilhante. Enquanto lamentamos, o tempo corre (e realmente parece correr muito mais depressa nessas ocasiões). Minutos de insatisfação tornam-se horas fatigantes, e, quando damos por nós, dias e meses afundados em mágoas, inseguranças e questionamentos instalam-se no nosso viver. Porém, quanto maior a queda, mais triunfante é o levantar-se para o mundo novamente.

O passado tem seu valor, porém... já passou! Quanto ao futuro, sofrer por antecipação ou deixar-se tomar pela ansiedade não farão com que ele se converta em presente mais rapidamente. Portanto, cuidemos bem do nosso único instrumento de transformação, o presente, para que ele seja uma excelente fonte de recordações e um caminho seguro para o destino que mais nos convenha.