"Lágrimas no rosto e vazio no coração.
Eram claros os sinais de que a vida real acabava de chegar para tomar o lugar de uma vida não perfeita, mas feliz.
Ao fechar a porta – e trancá-la, após sucessivas recomendações de segurança que minha mãe me dera durante todas as férias – desatei-me a chorar. Um choro compulsivo e angustiante, mas contido, para não acordar minha companheira de apartamento. Ao dar o abraço de despedida para a partida de meus pais e minha irmã, senti um imenso nó formando-se em minha garganta, que segurou o “Amo vocês!” nas profundezas do meu pensamento. Como sabia que isso iria acontecer, escrevi palavras de carinho e agradecimento, já no dia anterior, que ecoariam carregadas do meu sentimento.
Enfim chegara o momento tão esperado: caminhar com as próprias pernas, deixar minhas pegadas na história de algumas pessoas, seguir rumo a um destino que só enxergo em sonho, visando torná-lo realidade.
Deixava para trás a segurança e o amor sempre presentes em minha casa. Abria mão do abraço apertado que tanto me fez – e faz – falta. Das conversas produtivas e também dos bate-papos sem compromisso, que suscitam as risadas mais aconchegantes e fazem o tempo passar sem esforço algum.
Usei muitos artifícios para driblar a solidão que imediatamente se instalou na minha nova vida. Dediquei-me ao máximo aos estudos, motivo de minha partida. Devorei livros, para que as palavras alimentassem meu desejo por comunicação e socialização.
Infelizmente, meu perfeccionismo exacerbado tomou conta de mim, ao querer representar meu próprio ideal por dentro e por fora. O espelho começou a refletir uma imagem de um corpo cada vez mais magro e de um olhar cada vez mais vazio e sem brilho. A ajuda veio em hora certa, graças ao olhar atento de meus pais. Várias pessoas contribuíram para a minha recuperação, da qual ressurgi com mais energia e conhecendo mais a fundo minhas inseguranças e aspirações.
Um ano se passou.
Nesse meio-tempo, alegrias, decepções, realizações e muita, muita saudade.
O ano de 2008 começou com um objetivo claro: a aprovação no vestibular, passo extremamente importante para minha realização pessoal.
Entrei de cabeça desde o início, deixando em segundo plano minha vida social (que, aliás, sempre foi mais pessoal a social!) e meus momentos de prazer em frente a um bom livro ou filme.
A vida de estudante de vestibular veio preencher as tardes vazias com muitos exercícios e aulas a revisar. Ao mesmo tempo, aumentou a distância que me separa de todos a minha volta."
Essas palavras foram escritas em Junho de 2008 e ficaram sem um final. Até então, tal final não passava de uma grande incógnita, que não correspondia aos valores de "x" e "y" com os quais estava tão habituada e sequer poderia ser encontrado pelos métodos convencionais que as - inúmeras - fórmulas me disponibilizavam.
Mas esse era o caminho. Esse foi o caminho. Tudo mudou muito no segundo semestre, pra melhor. Amizades trouxeram paz pro meu coração e o conforto de que eu tanto necessitava. A proximidade do vestibular e as diversas possibilidades que surgiam daí me estimularam a seguir adiante.
E só de pensar que foram nos últimos 4 dias dos 698 que tudo se concretizou... Olho pra trás e vejo que vivi uma mistura de sentimentos, mas o que predomina hoje é a gratidão - gratidão por mim mesma, por não ter desistido tão fácil dos meus sonhos.
Escrevi o meu final feliz. Pelo menos o desse capítulo, dentre tantos que minha história ainda me reserva.
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