24.9.09
Perto ou Porto, seguro?
Cada conquista representa uma perda inevitável.
Cada passo que damos em direção a um destino, real ou utópico, acaba por nos aproximar dele, enquanto nos afasta, pouco a pouco, do que um dia nos foi porto seguro.
Será que o tempo é capaz de borrar cores e traços de rostos que já soaram tão familiares?
Terá ele coragem de nos fazer esquecer de momentos que nos trazem tanto conforto, ainda que em lembrança?
Quando bate a insegurança, questionando decisões passadas e expectativas futuras, restam-nos poucos abrigos, por vezes distantes, inalcançáveis... Recordações já não são mais suficientes; abastecem a memória, porém carecem da vitalidade que tanto nos encantou no momento em que foram imortalizadas.
É então chegado o momento de abdicar o desejo de abraçar o mundo por um único abraço que valha toda essa imensidão; de renunciar à automaticidade que nos move, e, voluntariamente, dar-nos o direito de um desabafo sincero, um choro compulsivo, umas gargalhadas estrondosas, qualquer possibilidade de paz. É hora de aceitar que não reinamos absolutos e que podemos ser depostos a qualquer momento, reféns que somos das nossas próprias vulnerabilidades.
O porto seguro permanecerá sempre no mesmo porto, sempre seguro.
Não foi ele que deixou de ser assim; somos nós que deixamos de vê-lo dessa maneira.