"Tristeza não tem fim / Felicidade, sim". A voz aveludada de Vinicius de Moraes, ao acariciar a alma através de notas musicais, por vezes mascara toda a dramaticidade incrustada nessa combinação de palavras. Serão, então, o sofrimento, a angústia, a incerteza e o desencontro eternos, ao passo em que a alegria, o amor, o sorriso e o reencontro têm prazo para se esgotarem?
A tristeza é tida como fonte de inspiração em vários campos da arte: escritores, compositores e pintores, entre outros, dizem-se muito mais aptos a criar quando impulsionados pelos sentimentos desencadeados por ela. Não que a felicidade não mereça ser escrita ou pintada, mas geralmente recorremos a métodos mais calorosos e eufóricos para demonstrarmos esse estado de espírito: tocamos o telefone para os amigos mais próximos (inclusive para aqueles nem tão próximos assim), ou até mesmo vamos transmitir pessoalmente a boa nova, motivo da felicidade recém adquirida. Afinal, dizem que esta só existe quando compartilhada.
Já a tristeza... A tristeza dispensa o compartilhamento para existir. Aliás, ela intensifica-se ao não ser compartilhada, e sim enclausurada dentro de nós, situação em que nunca seremos imparciais na sua análise. As sensações que a caracterizam assumem a dimensão de fios de lã, que, por si só, já são um emaranhado de tantos outros fios. À medida que vivemos, tecemos esses nossos sentimentos, enrolamo-los uns sobre os outros, a ponto de criarmos um novelo de emoções. Uma vez encontrada a ponta inicial e destacada do conjunto ao puxar-se com força, o novelo vai se desfazendo, rola como que tomado por vida própria, escorrega da poltrona e alcança o chão da sala, que se torna repleto de filetes de melancolia e mágoa. Esses sentimentos, aos poucos, impregnam o ar do ambiente, e inspiramos novamente uma dor que havia sido esquecida (ou ao menos se encontrava latente, quietinha). O novelo vai minguando, sumindo, tornando-se cada vez menor, revelando, enfim, sua ponta final, até se acabar em nada.
No chão, por fim, tanta coisa que não pode ser dita, tanto amor reprimido e sonho sufocado, inúmeras possibilidades tolhidas... tanta lã inerte. Choramos, exaltados ou em silêncio, porém resignados: o novelo, mesmo desfeito, será sempre a nossa bagagem. Nossas dores não existem sozinhas, não podem ser isoladas umas das outras, daí a impossibilidade de serem confessadas: não restariam ouvidos atentos ou alguma compaixão que resistisse a tamanha tormenta de sentimentos. É aí que recorremos à arte, mesmo que de forma paradoxal: palavras e pontuação, cores e traços, a nossa subjetividade na sua forma mais detalhada. Recolhemos a nossa bagagem, agora um pouco mais leve e inundada de lágrimas, e seguimos adiante.
Entretanto, por mais que a tristeza seja uma constante, podemos intercalá-la com doses de felicidade sincera. Não temos necessariamente de estar felizes o tempo todo – a vida sem os seus percalços a serem superados careceria de boa parte do seu encanto. Cabe a nós termos o bom senso de fazermos com que essa felicidade finita dure um pouquinho mais, achando graça no que é menosprezado pelos outros, sendo menos rígidos nas nossas exigências pessoais, e, por último, reconhecendo a nossa real tristeza e deixando de lado aquela inventada, que serve somente para pesar na bagagem. No final das contas, tenho de, assim como em outra ocasião, discordar de Vinicius (que ousadia!): tristeza é, sim, bonita, mas a felicidade que seja infinita.
A tristeza é tida como fonte de inspiração em vários campos da arte: escritores, compositores e pintores, entre outros, dizem-se muito mais aptos a criar quando impulsionados pelos sentimentos desencadeados por ela. Não que a felicidade não mereça ser escrita ou pintada, mas geralmente recorremos a métodos mais calorosos e eufóricos para demonstrarmos esse estado de espírito: tocamos o telefone para os amigos mais próximos (inclusive para aqueles nem tão próximos assim), ou até mesmo vamos transmitir pessoalmente a boa nova, motivo da felicidade recém adquirida. Afinal, dizem que esta só existe quando compartilhada.
Já a tristeza... A tristeza dispensa o compartilhamento para existir. Aliás, ela intensifica-se ao não ser compartilhada, e sim enclausurada dentro de nós, situação em que nunca seremos imparciais na sua análise. As sensações que a caracterizam assumem a dimensão de fios de lã, que, por si só, já são um emaranhado de tantos outros fios. À medida que vivemos, tecemos esses nossos sentimentos, enrolamo-los uns sobre os outros, a ponto de criarmos um novelo de emoções. Uma vez encontrada a ponta inicial e destacada do conjunto ao puxar-se com força, o novelo vai se desfazendo, rola como que tomado por vida própria, escorrega da poltrona e alcança o chão da sala, que se torna repleto de filetes de melancolia e mágoa. Esses sentimentos, aos poucos, impregnam o ar do ambiente, e inspiramos novamente uma dor que havia sido esquecida (ou ao menos se encontrava latente, quietinha). O novelo vai minguando, sumindo, tornando-se cada vez menor, revelando, enfim, sua ponta final, até se acabar em nada.
No chão, por fim, tanta coisa que não pode ser dita, tanto amor reprimido e sonho sufocado, inúmeras possibilidades tolhidas... tanta lã inerte. Choramos, exaltados ou em silêncio, porém resignados: o novelo, mesmo desfeito, será sempre a nossa bagagem. Nossas dores não existem sozinhas, não podem ser isoladas umas das outras, daí a impossibilidade de serem confessadas: não restariam ouvidos atentos ou alguma compaixão que resistisse a tamanha tormenta de sentimentos. É aí que recorremos à arte, mesmo que de forma paradoxal: palavras e pontuação, cores e traços, a nossa subjetividade na sua forma mais detalhada. Recolhemos a nossa bagagem, agora um pouco mais leve e inundada de lágrimas, e seguimos adiante.
Entretanto, por mais que a tristeza seja uma constante, podemos intercalá-la com doses de felicidade sincera. Não temos necessariamente de estar felizes o tempo todo – a vida sem os seus percalços a serem superados careceria de boa parte do seu encanto. Cabe a nós termos o bom senso de fazermos com que essa felicidade finita dure um pouquinho mais, achando graça no que é menosprezado pelos outros, sendo menos rígidos nas nossas exigências pessoais, e, por último, reconhecendo a nossa real tristeza e deixando de lado aquela inventada, que serve somente para pesar na bagagem. No final das contas, tenho de, assim como em outra ocasião, discordar de Vinicius (que ousadia!): tristeza é, sim, bonita, mas a felicidade que seja infinita.