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4.2.10

Destino, o real onipotente?


des.ti.no sm 1 Encadeamento de fatos; fatalidade. 2 Fado, sorte. 3 Objetivo, fim.

Escapa à descrição do dicionário um significado não menos importante dessas três sílabas. Não é minha intenção, por mero prazer, discordar de qualquer editora, ou criar caso por não ter mais o que fazer (bom, talvez a segunda opção...). Enfim, o significado desprezado ao qual faço menção é o seguinte: o "destino" funciona também, para muitos indivíduos, como um grande depósito, um grande e onipotente depósito.

Quantos são os que depositam todas as suas esperanças no dito "destino"? Cansados de remar contra a corrente, entregam a responsabilidade de suas decisões, o peso de suas escolhas, inteiramente nas "mãos" do Destino. Isso mesmo, letra maiúscula, já que agora estamos falando de uma entidade, praticamente um ser supremo. É imensamente mais fácil aderir a essa doutrina, que nos faz marionetes da vontade Dele, desprovidos de livre-arbítrio, do que abandonar a inércia e confrontar o que é dado como certo, imutável. Assim, qualquer infelicidade que nos aconteça, qualquer reviravolta que nos pegue de surpresa estará dentro de um contexto, não terá sido nossa culpa ou consequência dos nossos atos.

Corajosos são os que não acreditam no Destino, e sim em destino. Acreditar em um destino pra si pressupõe lucidez para criticar a sua realidade, ousadia para traçá-lo, determinação para alcançá-lo e uma sabedoria imensa para conservar o que foi conquistado. Por isso é que é muito mais fácil entregar-se à crença de que já estamos pré-destinados à uma vida inteira sem ao menos termos vivido a maior parte dela...

Parece impossível, até mesmo incoerente falar dessas atitudes em prol do seu destino para com os 980 milhões de miseráveis em todo o mundo (dados de 2004), com renda individual diária abaixo de US$ 1. Entretanto, não foi simplesmente aceitando a sua realidade social, política e econômica que Nelson Mandela alterou a de tantas outras pessoas, ou ainda que Machado de Assis, nascido pobre e epilético, neto de escravos alforriados, sem frequentar regularmente a escola, tornou-se um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos.

Apesar de considerar única cada situação, os exemplos anteriores só reforçam a teoria de que o nosso destino depende inteiramente de nós: temos livre-arbítrio para traçá-lo e alcançá-lo. Isso não exclui as crenças, a fé - sendo nossa força finita, precisamos de apoio nos momentos de fraqueza; apenas posiciona-nos como os verdadeiros escritores na nossa própria história.

4 comentários:

João Nunes Junior disse...

Muito interessante o texto, Luíza. Não são poucas as vezes em que usamos como consolo para alguns fracassos a expressão: "era pra ser assim", ou, ainda, a variante "não era pra ser"... Acho que tu capturou muito bem a ideia.

Acho também que o nosso grande problema é que não sabemos bem ao certo o que são essas muitas outras coisas que existem entre o céu e a terra...

Beijos, querida.

Unknown disse...

Lu! Achei teu melhor texto, não sei se é pq concordo com tudo ou pq esse está direto, objetivo, mas sem perder aquela tua graça da escrita! Adorei
beijão, Adri

Luís H. (kiki) disse...

Oi!
Fazia tempo que eu via o link para o blog no msn e mesmo apesar de eu não ter nada a ver contigo, até que enfim resolvi entrar. Fiquei impressionado com o teu jeito de escrever. Achei muito interessante os posts mas especialmente este último. Parabéns, porque não é qualquer um que escreve assim, ainda mais hoje, em que as pessoas se limitam apenas em falar futilidades. Boas férias, beijo.

Unknown disse...

Rá, concordo com muita coisa!
Fazer o seu destino e tal.
Muito bom!