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17.5.10

Gigantes atados



Todos queremos ser grandes. Alguns, a ponto de serem notados pelos demais, outros, somente grande o suficiente para não se perderem de vista dentro de si mesmos. Assim que atingimos o degrau uma vez almejado, lançamos os olhos no seguinte, e no próximo... Não nos contentamos com a estabilidade, com a possibilidade de uma rotina estabelecida, seja ela mesquinha ou não. Simplesmente não nos contentamos. Ainda bem.

Todos queremos fazer algo grandioso. Deixar nosso nome rabiscado em algum cantinho de folha dessa história nada linear que se convencionou chamar existência. Alguns desejam ser autores da oitava maravilha, outros, somente fazer algo maravilhoso, digno de uma noite bem dormida ao se encontrar a paz que tanto se procurou, e que estava ali o tempo todo, ao alcance da nossa coragem.

Mas o que é que nos impede de desatar esses nós? De desfazer essas amarras invisíveis que nos prendem, quando proclamamos, em alto e bom tom, que somos livres?

Não somos nós quem levamos a vida. É a vida que nos leva. E um dia ela resolve não nos devolver mais, simples assim. Serão carregadas juntas todas as verdades tidas como absolutas, e que, de fato, não passavam de falsos moralismos, nos quais fomos doutrinados a acreditar, e, como se não bastasse, passá-los adiante, como uma canção que não se entende a letra, mas é entoada animadamente, em coro. E todas as amarras que ficaram por desfazer e os nós que ficaram por desatar, continuarão amarras e nós, com milhares de desejos mofados presos a si.

É esse o meu maior medo: não conseguir me desamarrar a tempo e deixar que mofem todos os sonhos que trago comigo. Eu vivo muita coisa bonita nos meus sonhos. Não preciso nem de travesseiro, nem de cama macia para fazer com que eles aflorem: posso muito bem sonhar de olhos abertos, remota a tudo e todos a minha volta. E odeio ser interrompida de súbito, sem que me desapegue aos pouquinhos do meu outro mundo para, então, voltar à realidade. Não sei se isso é bom ou ruim, o fato de sonhar acordada. Acho que ao abrir os olhos já deveria encarar meu sonho como realidade. Ao menos é o que se espera (esperam).

Eu gosto de aparentar segurança. Um andar convicto vale muito mais que a própria segurança. Guardo minha covardia embaixo da cama, para alimentá-la todos os dias antes de dormir. É ela quem me relembra os sorrisos e abraços a serem distribuídos e o caminho a ser seguido para que a mantenha latente, embora muito dominante nessa sua quiescência.

Por favor, não faça descaso da minha pouca idade ou falta de vivência: a vida não se restringe à soma de horas, dias, semanas, meses e anos ao currículo, mas deve-se também, e principalmente, à soma de algumas experiências que valem por uma vida inteira. Não que eu as tenha vivido todas - espero levar um bom tempo para que isso aconteça; espero é que aconteça... -, apenas gosto muito de palpitar, e, há pouco, tomei três xícaras de café.

4 comentários:

João Nunes Junior disse...

Quando eu crescer quero escrever igual a ti!

Unknown disse...

Esse agora pode um dia vir à ser o primeiro texto do livro com os escritos desse blog! Ou a contracapa, ou o prefácio, ou uma notinha de rodapé que acrescenta mais ao mistério.
Posso ser teu editor?

Fernanda Tavares disse...

Gente, escreves muito bem!
Adoro passar por aqui e me deliciar com seus textos. Parabéns moça. :)
Concordo com o rapaz alí embaixo: deves pensar em escrever um livro e esse manuscrito caberia muito bem na introdução dele.
Tu pensas nisso?

Beijo.

Unknown disse...

"Não somos nós quem levamos a vida. É a vida que nos leva. E um dia ela resolve não nos devolver mais, simples assim... E todas as amarras que ficaram por desfazer e os nós que ficaram por desatar, continuarão amarras e nós, com milhares de desejos mofados presos a si." Perfeito Lú, cada dia me encanto mais com a tua facilidade de colocar no papel sentimentos e assuntos tão complexos de uma maneira tão fácil de ser compreendida..