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10.10.09

O Pranto Celeste


Hoje o céu chorou. Chorou o dia todo, sem intermiscências. Sua tristeza molha a vidraça, os carros na rua, em contraste com a felicidade do casal que se banha, entre abraços, em seu pranto - mal sabem eles que essa tristeza escorrendo por seus corpos, tão súbita quanto o amor, irá lhes atingir o coração.
As lágrimas, logo ao amanhecer, encheram minha teoria da mais sensata convicção: mal se ocultou, a lua já havia deixado a saudade em seu lugar. Passaram a noite inteira juntos, com a lua irradiando seu brilho, como carícia, por toda a superfície negra, e esta destacando-a das reles estrelas que a circundam. Então, sem qualquer explicação, o astro foi, gradualmente, camuflando-se no azul cada vez mais claro que despontava, para perder-se calado.
Tudo corria bem - falo por mim, não pelo céu, que àquelas alturas já apelava às nuvens de poluição para abastecer sua tristeza -, até o momento em que minha teoria foi arrastada pela correnteza cada vez mais intensa de pranto, como tantas folhas desprendidas de árvores o foram. Era de se esperar que a tristeza perdurasse todo o dia, entretanto, a proximidade da noite não atenuou sua voracidade, nem ao menos o fizeram os primeiros brilhos da lua rasgando o céu, concretizando a sua chegada. Seria, então, o sol, que não mais o aquecia, a razão de tamanho desconsolo? As nuvens, carregadas de lágrimas, impediram a sua aparição durante o dia, e ele agora chorava, sentindo frio e saudade do calor do sol que o envolvia em abraço, aquecendo sua vastidão.

Hoje o céu não chorou. Não chorou o dia todo, sem intermiscências. Logo cedo, os raios de sol irradiaram na vidraça, nos carros na rua, contrastando com a gelidez do casal que caminha, silencioso, rumo a lugar nenhum, relutante em acreditar que a tempestade que os banhou ontem é menor que a de hoje. E quando os tons remetiam a fogo no horizonte, fez-se notar a lua, amparando, tímida, aqueles que hoje choram sem carícias de brilho, sem abraços de calor, carregando apenas as suas saudades infinitas.

1 comentários:

João Nunes Junior disse...

Achei teu blog nos comentários da Maria Rezende... tomei a liberdade de visitar e adorei teus escritos, muito belos...

Parabéns pelas palavras!