"Você não sente, não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer.
O que há algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer."
(Belchior)
Ao olharmos fotografias de 40, 50 anos atrás, deparamo-nos com um tipo de mudança: aquela escancarada aos olhos, que tende a contrastar com o que nos circunda hoje sem o menor esforço.
Guiando-nos pela moda, as roupas dos anos 60 marcaram época ao incorporar, em cada curva e prega, as ideologias desafiadoras que embalavam toda uma geração. Nas mulheres, vestidos rodados e minissaia, estampas psicodélicas e geométricas, além das botas de cano longo. Nos homens, a influência dos Beattles era marcante, traduzindo-se em paletós sem colarinho, calças justas e japona do pescador.
Entretanto, dando um pulo na década seguinte, percebe-se que suas características mais evidentes em nada remetem à que a precedeu. Foi a época de reverberação do Festival de Woodstock, ocorrido em 1969. Os revolucionários de 60 assumiram uma postura mais calma na década de 70: os hippies. As urgências do mundo tiveram menos importância do que a própria satisfação e felicidade. O "Flower-power" estampava-se nos jeans bordados de flores, pantalonas tipo "Oxford" e saias longas e vaporosas até o chão, e vociferava, entre as notas de Led Zeppelin, "Make love, not war".
Essa viagem ao passado evidencia que mudanças são naturais, são saudáveis. Refletem toda a nossa inquietação, nossos sonhos latentes. E deixam marcas profundas, que são percebidas até hoje, seja no jeans que não sai do nosso corpo, seja na crença da paz e do amor (apesar desta estar um pouco empoeirada e jogada no cantinho da nossa sala de preocupações - tantas são as bobagens prioritárias!).
Entretanto, existe uma outra mudança. Muito menos evidente, tamanha a sua discrição; muito mais drástica, dada a sua proximidade. É a mudança que ocorreu semana passada, mudança que ocorreu ontem, e que ainda está ocorrendo. É a mudança que se dá dentro de nós. Assumimos uma nova postura, formulamos novos planos, abandonamos velhos idealismos. Nem ao menos percebemos o quanto vamos ficando diferente do que éramos... ontem. Despimo-nos, vestimo-nos. O "jeito de ser" recém-adquirido nos impulsiona a seguirmos, diariamente, a caminhada, repleto que está de possibilidades de encontrarmos "paz e amor" logo ali, logo além...
É necessário despedidas, algumas lágrimas, um certo aperto no peito - prova de que não nos falta humanidade e, pricipalmente, coragem. Coragem de muitas vezes contestar o que nos é imposto - por vezes mais cômodo - para buscar a nossa realização, a nossa promessa de felicidade - ainda que nossos sonhos sejam um tanto quanto utópicos: afinal, com os dois pés na realidade, de nada valeriam!
As luzinhas já estão piscando nas casas e monumentos; não há melhor momento para guardarmos a velha roupa colorida, cantarolando com Elis: "no presente, a mente, o corpo é diferente, e o passado é uma roupa que não nos serve mais".
ps.: é domingo, domingo ensolarado, e eu estou em casa novamente: nada mais inspirador (e perigoso).
3 comentários:
Mudar e melhorar são duas coisas diferentes! Já diz um provérbio alemão.
:)
Um tal de Heráclito, que foi um cara que viveu na Grécia, disse que "todas as coisas estão em perpétuo estado de fluxo". Ele dizia que "no mesmo rio entramos e não entramos, somos e não somos". Ou seja, não podemos nos banhar duas vezes no mesmo rio, porque, na segunda vez, as águas do rio - em perpétuo fluxo - já não seriam mais as mesmas, assim como nós mesmos já teremos mudado.
Logo, não sei quem que tá escrevendo esse comentário, já que, nesse momento, o “eu” que escreveu não existe mais. Porque o próprio ato de escrever o comentário pode ter me modificado. Enfim, fui eu, mas não o mesmo eu de antes, nem o mesmo de agora. Mais ou menos por aí. ahuhuahuau
Pensei que fosse o único a gostar de Belchior: o único fanho a se dar bem na música
Postar um comentário