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6.12.09

Mudança, a única constante


"Você não sente, não vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer.
O que há algum tempo era novo, jovem
Hoje é antigo
E precisamos todos rejuvenescer."
(Belchior)

Ao olharmos fotografias de 40, 50 anos atrás, deparamo-nos com um tipo de mudança: aquela escancarada aos olhos, que tende a contrastar com o que nos circunda hoje sem o menor esforço.

Guiando-nos pela moda, as roupas dos anos 60 marcaram época ao incorporar, em cada curva e prega, as ideologias desafiadoras que embalavam toda uma geração. Nas mulheres, vestidos rodados e minissaia, estampas psicodélicas e geométricas, além das botas de cano longo. Nos homens, a influência dos Beattles era marcante, traduzindo-se em paletós sem colarinho, calças justas e japona do pescador.

Entretanto, dando um pulo na década seguinte, percebe-se que suas características mais evidentes em nada remetem à que a precedeu. Foi a época de reverberação do Festival de Woodstock, ocorrido em 1969. Os revolucionários de 60 assumiram uma postura mais calma na década de 70: os hippies. As urgências do mundo tiveram menos importância do que a própria satisfação e felicidade. O "Flower-power" estampava-se nos jeans bordados de flores, pantalonas tipo "Oxford" e saias longas e vaporosas até o chão, e vociferava, entre as notas de Led Zeppelin, "Make love, not war".

Essa viagem ao passado evidencia que mudanças são naturais, são saudáveis. Refletem toda a nossa inquietação, nossos sonhos latentes. E deixam marcas profundas, que são percebidas até hoje, seja no jeans que não sai do nosso corpo, seja na crença da paz e do amor (apesar desta estar um pouco empoeirada e jogada no cantinho da nossa sala de preocupações - tantas são as bobagens prioritárias!).

Entretanto, existe uma outra mudança. Muito menos evidente, tamanha a sua discrição; muito mais drástica, dada a sua proximidade. É a mudança que ocorreu semana passada, mudança que ocorreu ontem, e que ainda está ocorrendo. É a mudança que se dá dentro de nós. Assumimos uma nova postura, formulamos novos planos, abandonamos velhos idealismos. Nem ao menos percebemos o quanto vamos ficando diferente do que éramos... ontem. Despimo-nos, vestimo-nos. O "jeito de ser" recém-adquirido nos impulsiona a seguirmos, diariamente, a caminhada, repleto que está de possibilidades de encontrarmos "paz e amor" logo ali, logo além...

É necessário despedidas, algumas lágrimas, um certo aperto no peito - prova de que não nos falta humanidade e, pricipalmente, coragem. Coragem de muitas vezes contestar o que nos é imposto - por vezes mais cômodo - para buscar a nossa realização, a nossa promessa de felicidade - ainda que nossos sonhos sejam um tanto quanto utópicos: afinal, com os dois pés na realidade, de nada valeriam!

As luzinhas já estão piscando nas casas e monumentos; não há melhor momento para guardarmos a velha roupa colorida, cantarolando com Elis: "no presente, a mente, o corpo é diferente, e o passado é uma roupa que não nos serve mais".


ps.: é domingo, domingo ensolarado, e eu estou em casa novamente: nada mais inspirador (e perigoso).

3 comentários:

Anônimo disse...

Mudar e melhorar são duas coisas diferentes! Já diz um provérbio alemão.
:)

André disse...

Um tal de Heráclito, que foi um cara que viveu na Grécia, disse que "todas as coisas estão em perpétuo estado de fluxo". Ele dizia que "no mesmo rio entramos e não entramos, somos e não somos". Ou seja, não podemos nos banhar duas vezes no mesmo rio, porque, na segunda vez, as águas do rio - em perpétuo fluxo - já não seriam mais as mesmas, assim como nós mesmos já teremos mudado.

Logo, não sei quem que tá escrevendo esse comentário, já que, nesse momento, o “eu” que escreveu não existe mais. Porque o próprio ato de escrever o comentário pode ter me modificado. Enfim, fui eu, mas não o mesmo eu de antes, nem o mesmo de agora. Mais ou menos por aí. ahuhuahuau

primo disse...

Pensei que fosse o único a gostar de Belchior: o único fanho a se dar bem na música